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terça-feira, 13 de maio de 2014

Quatro vezes Tamburello: os outros acidentes graves na “reta torta” de Ímola

Depois do acidente fatal de Ayrton Senna, a FIA e os responsáveis pelo Autódromo Enzo e Dino Ferrari fizeram mudanças imediatas na curva Tamburello, que acabou transformada em uma chicane para evitar a aproximação em alta velocidade. O acidente de Senna tornou-se o mais famoso acontecido na curva maldita, porém não foi o primeiro.

Na verdade, uma série de acidentes gravíssimos nos anos anteriores já alertavam para o perigo da Tamburello, mas como em várias outras situações, foi preciso uma morte para que providências fossem tomadas. Dinamicamente a Tamburello não tinha grandes segredos: mantenha o pé no fundo e gire levemente o volante.

O problema era quando algo dava errado: sendo um curva fácil, ela não deixava margem para falhas. Sem área de escape e com um muro praticamente desprotegido, qualquer acidente tomava proporções trágicas. O primeiro acidente mais grave acontecido na “reta torta” de Ímola, aconteceu com Nelson Piquet em 1987, no ano em que o brasileiro conquistou seu terceiro título mundial.

Durante os treinos, ao se aproximar da Tamburello o pneu traseiro direito do Williams FW-11 de Piquet desinflou subitamente, resultando em uma rodada seguida de uma pancada violenta contra o muro. Piquet saiu ileso, com apenas uma torção no tornozelo, mas foi impedido de participar da corrida por recomendação do dr. Sid Watkins.
Sete anos mais tarde, em sua entrevista no programa Roda Viva realizada após a morte de Senna, Piquet contou que teve sorte porque seu carro bateu de traseira. Mesmo assim, ele conta que seus reflexos nunca mais foram os mesmos depois do acidente.

A segunda vítima da Tamburello foi o austríaco Gerhard Berger, no GP de San Marino de 1989. Berger estava a 290 km/h quando sua Ferrari teve uma falha mecânica — possivelmente algo na asa dianteira, que tirou a pressão aerodinâmica necessária para evitar o sub-esterço — que lhe custou o controle do carro.


A Ferrari seguiu reto, saindo pela tangente da curva e indo direto ao muro. Depois da forte batida, o carro se arrastou mais alguns metros e o combustível em contato com o motor quente deu início a um grande incêndio.

Nessa entrevista abaixo, Berger conta que se lembra de tudo como um filme em câmera lenta: inicialmente sentiu a dianteira direita leve, pensou ter se tratado de uma quebra na suspensão traseira, mas logo em seguida pensou em uma quebra na asa dianteira, viu o muro se aproximando e lembrou que estava com o tanque cheio pois era o começo da corrida. Então ele conta que sentiu que estava muito machucado, mas não conseguia distinguir o que havia acontecido.

Ele quebrou um par de costelas, queimou as mãos e suas “balls”, como ele contou ao entrevistador. A recuperação foi rápida, e ele perdeu apenas o GP de Mônaco antes de voltar às pistas.

Dois anos mais tarde a Tamburello fez sua terceira vítima: o italiano Michele Alboreto. Ele estava testando novo Footwork FA12 com motor Porsche, poucos  dias antes do GP de San Marino de 1991, quando a asa dianteira se quebrou no meio da curva, levando sua Footwork direto ao muro. Alboreto teve cortes na perna e duas costelas quebradas, mas saiu andando normalmente do carro.

O último piloto a se acidentar na Tamburello, antes do fatídico acidente de Senna em 1994, foi Riccardo Patrese. O italiano fazia sua 38ª volta nos testes coletivos semanas antes do GP de San Marino de 1992 quando um problema na roda traseira direita o fez perder o controle do seu Williams FW14.

Dos quatro acidentados, Patrese foi o que menos se machucou, e saiu do acidente com uma concussão e dores nas coluna, mas se recuperou a tempo de disputar a corrida e chegar em segundo lugar.

Como vimos, todos os acidentes da Tamburello (incluindo o de Senna) foram causados por falhas mecânicas, e só acabaram com gravidade devido à proximidade dos muros desprotegidos e da ausência de uma área de escape. Infelizmente, mesmo com tantos avisos, a solução veio tarde demais.


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